Uma correção que quase sempre faço nos arquivos de revisão de texto é o uso de hífen, traço ou travessão.
Você já notou a diferença entre eles? E que o seu uso não é indiferente?
O hífen [-] é um sinal de pontuação usado para unir palavras, intervalo de anos e páginas, indicar ligação ou movimento entre pontos:
☞ palavras-chave; meio-termo.
☞ 1650-1865; pp. 31-54.
☞ Rio-São Paulo; Roma-Berlim-Tóquio.
O traço [–] e o travessão [—] são mais longos que o hífen, sempre havendo um espaço entre eles e as palavras no texto. Em inglês eles são chamados de en dash e em dash, pelo primeiro ter a extensão de um N e o segundo de um M.
Alguns manuais os tratam como sinais diferentes, e a escolha pelo uso entre um e outro é estética, variando com o projeto gráfico e o tipo de fonte utilizada na publicação.
Em geral, o traço [–] é usado em enumerações:
Com a editoração eletrônica, o processo foi bastante simplificado:
– Texto digitado;
– Paginação;
– Diagramação eletrônica;
– Prova para correção;
– Prova final.
— Emanuel Araújo, A construção do livro
Em referências bibliográficas de teses e dissertações (conforme a ABNT NBR 6023):
CURI, Fernanda Araujo. Ibirapuera, metáfora urbana: o público/privado em São Paulo, 1954-2017. 2018. 345 f. Tese (Doutorado em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018. DOI 10.11606/T.16.2019.tde-09012019-113200.
Em títulos de tabelas, quadros, gráficos e imagens:
Fig. 107 – Síntese aditiva de cores
Fig. 108 – Síntese subtrativa de cores
— Emanuel Araújo, A construção do livro
O comando para traço no Word é Ctrl + – (sinal de menos no teclado numérico).
No Google Docs, basta bater na tecla do hífen duas vezes.
O travessão [—] é usado em passagens do texto para destacar frases explicativas, cumprindo uma função parecida com a dos parênteses:
Nisso diferiam dos partidos socialistas de massa, que achavam quase impossível operar fora da legalidade — eleições, comícios e o resto — que definia e determinava suas atividades.
— Eric Hobsbawm, Era dos extremos
Para enfatizar uma conclusão:
Assumia-se tacitamente agora que o mundo consistia em vários bilhões de seres humanos definidos pela busca de desejo individual, incluindo desejos até então proibidos ou malvistos, mas agora permitidos — não porque se houvessem tornado moralmente aceitáveis, mas porque tantos egos os tinham.
— Eric Hobsbawm, Era dos extremos
E em diálogos.
— Devo dizer a ela, sr. K., que deixe para mais tarde o resto da mudança? Se quiser, faço-o imediatamente.
— Mas ela precisa transferir suas coisas para o quarto da senhorita Bürstner! — Disse K.
— Sim — disse a sra. Grubach sem entender direito o que K. pretendia.
— Bem, então ela tem de trazer suas coisas para cá — disse K.
— Franz Kafka, O processo
O comando para travessão no Word é Ctrl + Alt + – (sinal de menos no teclado numérico).
No Google Docs, basta bater na tecla do hífen três vezes.
Esses são exemplos dos usos de hifens — ou hífenes —, traços e travessões em português do Brasil. Cada idioma tem seus padrões de uso da pontuação, que são baseados na tradição e na especificidade de cada língua.
O importante quando for revisar um texto é fazer o uso consistente dos sinais gráficos. Além de facilitar a leitura, isso também garante um aspecto visual agradável e profissional.
Referências
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ACORDO Ortográfico da Língua Portuguesa: atos internacionais e normas correlatas. 2. ed. Brasília, DF: Senado Federal, 2014. base 15, pp. 24-5.
AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da língua portuguesa. 5. ed. rev. São Paulo: Parábola, 2021. Apêndices, 1.6, p. 565. (Referenda; 6).
BRASIL. Senado Federal. Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom). Manual de comunicação. Brasília, DF, 2012. Travessão. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/manualdecomunicacao/estilos/travessao.
CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 7. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2016. cap. 21, p. 682-3. (Obras de Referência).
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (Embrapa). Manual de produção editorial. Publicação digital – HTML. Brasília, DF, 2023. cap. 37.1.5. Disponível em: https://www.embrapa.br/en/manual-de-producao-editorial/gramatica#t37.1.5.
FOLHA DE S.PAULO. Manual da Redação: as normas de escrita e conduta do principal jornal do país. 22. ed. Barueri, SP: Publifolha, 2021. Parênteses/travessões, pp. 153-4; Travessão, p. 254.
MARTINS FILHO, Plinio. Manual de editoração e estilo. São Paulo: Edusp, 2016. cap. 45, pp. 609-17.
O ESTADO DE S. PAULO. Manual de redação e estilo. Org. e ed. de Eduardo Martins. São Paulo, 1990. Travessão, pp. 286-7.
THE CHICAGO Manual of Style. 17. ed. Chicago: The University of Chicago Press, 2017. cap. 6.75-92.
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” (Unesp). Normas para publicações: volume 4: o trabalho editorial. São Paulo: Editora Unesp, 2010. cap. 3.5, p. 34.